quinta-feira, 25 de outubro de 2007

A Armadilha Da Pobreza

A pobreza é um mundo de escuridão, onde cada dia é uma luta pela sobrevivência. Os pobres constituem a maioria da população em aproximadamente um em cada cinco países do mundo. Em países ricos, estão cada vez mais concentrados em comunidades minoritárias. Enfrentam uma vida de fome, desnutrição e doenças, e são desrespeitados em seus direitos à educação, a receber bom atendimento de saúde, a ter acesso a água limpa e saneamento, e a ter proteção em situações que possam lhes causar danos.
Ser uma menina nascida na pobreza significa enfrentar a discriminação muitas e muitas vezes, em condições penetrantes e insidiosas. Desde o momento da concepção, os direitos das meninas já estão em perigo. É possível que existam cerca de 60 milhões de ‘mulheres desaparecidas’ em todo o mundo, que estariam vivas hoje não fosse a discriminação de gênero, que começa antes de seus nascimentos e continua durante suas vidas.
Embora a discriminação contra meninas e mulheres seja encontrada em todos os continentes do mundo, devido à enorme escala de sua população e às restrições culturais contra gênero e classe, poucas regiões podem ser comparadas à Ásia Meridional, onde, a cada ano, milhões de meninas nascem na pobreza, em condições de servidão devido a dívidas, e em castas sociais desumanas. Mulheres grávidas pobres, preocupadas com o custo futuro do dote de uma filha, procuram cada vez mais os serviços dos 'médicos de ultrassonografia' itinerantes, e abortos ilegais de fetos do gênero feminino têm sido registrados em 27 dos 32 estados da Índia. Em algumas comunidades de Bihar e Rajasthan, as taxas de nascimentos, que naturalmente deveriam estar em torno de 100 mulheres para cada 103 homens, foram drasticamente reduzidas para 60 mulheres para cada 100 homens.
Essas meninas, crianças da pobreza, freqüentemente começam suas vidas preteridas em favor de seus irmãos com relação a alimentação, cuidados médicos e escolarização. À mercê dos homens de suas famílias e comunidades, sofrem o isolamento da ignorância e do analfabetismo, a agonia de espancamentos. Para meninas e mulheres da classe social mais baixa, humilhações públicas são freqüentes.
A pobreza de castas sociais persiste por toda aquela vasta região, desafiando leis que proíbem sua prática e destituindo de seus direitos, só na Índia, muito mais de 160 milhões de pessoas. Um peso particularmente cruel cai sobre as crianças, quando os pais contraem pequenos empréstimos em troca do envio ou da venda de uma criança para um dono de fábrica ou de fazenda. Na Ásia Meridional, estima-se em 20 milhões o número de meninas e meninos que trabalham nesta servidão da dívida, curvados sobre teares, fazendo tijolos ou enrolando cigarros com a mão – mas esse número talvez chegue a 40 milhões. Outros tantos, em número incontável, passam sua infância e adolescência em servidão doméstica, varrendo o chão e esfregando potes e panelas.
É perturbador imaginar o que espera uma criança de seis anos quando seus pais a colocam como garantia de dívida em troca de um empréstimo por sementes ou abrigo. É quase incompreensível que uma menina das montanhas do Nepal, vendida por seus pais empobrecidos a um agente que oferece emprego em uma fábrica de tapetes, em vez disso se encontre, juntamente com outras meninas, em uma sala sem janelas em Calcutá ou Bombaim, forçada a fazer sexo com duas dúzias de clientes adultos por dia. Assim como os países em que vivem, que estão presos na armadilha da dívida, as crianças raramente conseguem pagar as dívidas de seus pais, mesmo depois de 10 ou 12 anos, e perpetuam a servidão de suas famílias transmitindo-a a um irmão mais novo ou a seus próprios descendentes.

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